domingo, 15 de março de 2009

Flâneur


"Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o llirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos de flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar".

A figura do flâneur, divulgada em várias produções literárias do século XIX, esta vinculada a esse sujeito que nutre uma paixão pela rua, que faz de sua observação um prazer e um saber, de seu ócio um ofício, de sua visão uma filosofia. Personagem típico da modernidade, o flâneur é a pessoa que caminha sem destino, observando o cenário urbano. Ao vagar sem rumo e com o olhar curioso, este andarilho anônimo que busca novas aventuras, ao mesmo tempo que é parte da multidão é também o avesso dela, já que a multidão - regida pelo sistema capitalista - é movida pelo trabalho enquanto o flâneur é movido pelo ócio.

Durante o exercício da flânerie o eu se perde na multidão humana, nela se encontrando, dela participando. E nessa perda , que é encontro, faz do instante da observação uma descrição histórica, imortalizando o efêmero por meio de seu olhar artístico.

Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, à tarde, à noite, meter-se nas rodas da populaça e admirar o menino da gaitinha lá na esquina, é conversar com os cantores de seresta, é ver os bonecos pintados a giz nos muros das casas, e observar minuciosamente as grandes e pequenas obras da cidade.
É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com inteligência.

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