segunda-feira, 4 de maio de 2009

Resenha - Vilém Flusser

Design: Obstáculo para remoção de Obstáculos?

Vilém Flusser discorre sobre um problema vigente ao nosso tempo; denominado por “Dialética interna da cultura” – sendo que “cultura” é entendida como a totalidade dos objetos de uso. “um objeto de uso é um objeto de que se necessita e que se utiliza para afastar outros objetos do caminho” , se assim entendermos que caminho e que objetos que se encontram nele, são metáforas, respectivamente, da vida e dos problemas/obstáculos que elas nos propõem.

Flusser explica resumidamente como a dialética funciona e nos atinge: “Eu topo com obstáculos em meu caminho (topo com o mundo objetivo, objetal, problemático), venço alguns desses obstáculos (transformo-os em objetos de uso, bem cultura), com o objetivo de continuar seguindo, e esses objetos vencidos mostram-se eles mesmos como obstáculos. Quanto mais longe vou, mais sou impedido pelos objetos de uso (mais na forma de carros e de instrumentos administrativos do que na forma de granizo e tigres).” O autor continua, mostrando como o problema é de fato um ciclo no qual todos nós fazemos parte: “E na verdade sou duplamente obstruído por eles: primeiro, porque necessito deles para prosseguir, e, segundo, porque estão sempre no meio do meu caminho. Em outras palavras: quanto mais prossigo, mais a cultura se torna objetiva, objetal e problemática.”

Esse antagonismo é alvo de varias perguntas e também é reformulado de outros modos enquanto o filósofo “ensaia” sobre o assunto. Pontos cruciais nessas divagações são referentes ao processo de criação e a responsabilidade de seu criador e quais as mudanças de comportamento que nós, homens, devemos adotar visando uma solução. Quanto ao processo de criação fica claro entender o tamanho da responsabilidade que paira sobre o criador, uma vez que sua criação, seu objeto será “lançado no caminho dos demais” – oferecendo ajuda necessária para prosseguir e/ou tornando-se uma dificuldade, um empecilho, um obstáculo para o usuário.

Assim, Vilém Flusser vê na “liberdade” uma solução (ou pelo menos um caminho para uma possível solução)! Não pensando somente no objeto, mas, dando atenção necessária ao processo criativo e uma maior liberdade e abertura para os outros responderem por si só sobre a criação, fará com que esse objeto não diminua o “espaço da liberdade na cultura”, tendo com isso uma maior interação entre usuários e objeto, tão quanto entre os Homens. “...no processo de criação dos objetos, faz-se presente a questão da responsabilidade, e exatamente por isso é que se torna possível falar da liberdade no âmbito da cultura. A responsabilidade é a decisão de responder por outros homens... quando decido responder pelo projeto que crio, enfatizo o aspecto intersubjetivo, e não o objetivo, no utilitário que desenho...(ou seja, quanto mais irresponsavelmente o crio), mais ele estorvará meus sucessores e, conseqüentemente, encolherá o espaço da liberdade na cultura”.

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